Áreas de dispersão e recrutamento de larvas do caranguejo-uçá, Ucides cordatus, nos Manguezais Paranaenses

Autores

  • Anny Izabelly de Araujo Cordeiro Universidade Estadual do Paraná/UNESPAR, Brasil
  • Cassiana Baptista Metri Universidade Estadual do Paraná/UNESPAR, Brasil
  • Kelly Ferreira Cottens Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, Brasil
  • Junior Ferreira de Souza Dias Universidade Federal do Ceará/UFC, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v14i3.2542

Palavras-chave:

Meroplâncton, desenvolvimento larval, Complexo Estuarino de Paranaguá

Resumo

O caranguejo-uçá, Ucides cordatus, é uma espécie endêmica de manguezais com grande importância econômica e ecológica no litoral brasileiro. Sua reprodução ocorre nos meses de verão e inclui seis estágios de larvas planctônicas que se desenvolvem na região marinha, e regressam ao estuário na fase de megalopa. Nesta pesquisa foi investigada a presença de larvas de U. cordatus e a distribuição temporal dos estágios larvais, com objetivo de gerar subsídios para classificar as áreas de manguezais do Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP), no Paraná, quanto à ocorrência da exportação e o recrutamento larval. As amostras foram obtidas em parceria com o Programa Rebimar, provenientes de armadilhas luminosas e arrastos oblíquos com redes planctônicas. Os locais de coleta foram próximos à desembocadura sul da Baía de Paranaguá, onde foram realizadas campanhas de março/2018 a abril/2019, sendo repetidas coletas no ponto que mais se destacou em dezembro/2022 a janeiro/2023. Em laboratório, as amostras foram triadas e as larvas separadas, identificadas e quantificadas de acordo com seus estágios de desenvolvimento. Nas análises feitas, o U. cordatus ocorreu em 100% das amostras analisadas. Os estágios iniciais (zoeas) representaram cerca de 69% do total, sendo o restante, 30,2%, estágio larval avançado (megalopa). A maior concentração de zoeas ocorreu em dezembro/2018 e dezembro/2022, com declínio em janeiro/2019, janeiro/2023, que correspondeu à elevação da abundância megalopas, indicando o início do recrutamento. A maior abundância de larvas ocorreu no rio Baguaçu, que apresentou a maior contribuição para o suprimento de larvas disponíveis ao recrutamento. Portanto, essa área de manguezal se destacou entre as demais estudadas Complexo Estuarino de Paranaguá CEP, sendo a mais indicada como prioritária à preservação dos estoques de U. cordatus.

Referências

1 Correia MD, Sovierzoski HH. Ecossistemas marinhos: recifes, praias e manguezais. Maceió: EDUFAL. 1. ed., p. 55: il. – (Conversando sobre ciências em Alagoas), 2005. Disponível em: https://daffy.ufs.br/uploads/page_attach/path/9358/ciencias2.pdf

2 Alongi DM. Mangrove forests: Resilience, protection from tsunamis, and responses to global climate change. Estuarine, Costal and Shelf Science. 2008;76:1-13.

3 Schaeffer-Novelli Y, Cintrón-Molero G, Soares MLG, De-Rosa T. Brazilian mangroves. Aquatic Ecosystem Health & Management. 2000;3(4):561-570. doi:10.1080/14634980008650693

4 Severino-Rodrigues E, Pita JB, Graça-lopes R. Pesca artesanal de siris (Crustacea: Decapoda: Portunidae) na região estuarina de Santos e São Vicente (SP) Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo. 2001;27(1):7-19.

5 Alongi DM. Present state and future of the world’s mangrove forests. Envir Conserv. 2002;29(3):331-349. doi:10.1017/S0376892902000231.

6 Fisch F, Branco JO, De Menezes JT. Carcinofauna como indicador da integridade biótica de um ambiente estuarino no litoral de Santa Catarina, Brasil. Rev ambiente água. 2015;10(2):464-478. doi:10.4136/ambi-agua.1540.

7 Neto JD, Metri CB. Proposta de Plano Nacional de Gestão Para o Uso Sustentável Do Caranguejo-Uçá, Do Guaiamum e Do Siri Azul. IBAMA; 2011. doi:10.13140/2.1.4848.6089

8 Branco JO. Aspectos bioecológicos do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda) do manguezal do Itacorubi, Santa Catarina, BR. Arq. Biol. Tecnol. 1993; 36 (1):133-148.

9 Nordhaus I, Wolff M. Feeding ecology of the mangrove crab Ucides cordatus (Ocypodidae): food choice, food quality and assimilation efficiency. Mar Biol. 2007;151(5):1665-1681. doi:10.1007/s00227-006-0597-5

10 PMAP-PR. Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira no Paraná [Internet]. Informativos Trimestrais: Conheça os resultados do monitoramento pesqueiro por trimestre para cada município [acesso em 24 jul 2024]. Disponível em: http://pescapr.fundepag.br/

11 Blankensteyn A, Cunha-filho D, Freire AS. Distribuição, estoques pesqueiros e conteúdo protéico do caranguejo do mangue Ucides cordatus (L. 1763) (Brachyura Ocypodidae) nos manguezais da Baía das Laranjeiras e adjacências, Paraná, Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia. 1997;40(2):331-349.

12 Martinez, CBR. Regulação osmoionica no caranguejo de mangue Ucides Cordatus (Linnaeus, 1763), em presença de benzeno [Dissertação]. Universidade de mer, São Paulo, 1990.

13 Wunderlich AC, Pinheiro MAA, Rodrigues AMT. Biologia do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Crustacea: Decapoda: Brachyura), na Baía da Babitonga, Santa Catarina, Brasil. Rev Bras Zool. 2008;25(2):188-198. doi:10.1590/S0101-81752008000200005

14 Ostrensky A, Sternhain US, Brun E, Wegbecher FX, Pestana D. Technical and economic feasibility analysis of the culture of the land crab Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) in Paraná coast, Brazil. Arquivos de biologia e tecnologia. 1995;38(3);939-947.

15 Góes P, Branco JO, Pinheiro MAA, Barbieri E, Costa D, Fernandes LL. Bioecology of the uçá-crab, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), in Vitória Bay, Espírito Santo State, Brazil. Brazilian Journal of Oceanography. 2010;58(2):153-163. doi:10.1590/S1679-87592010000200006

16 Mota-Alves MI. Sobre a reprodução do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) em mangues do Ceará (Brasil). Arquivos de Ciências do Mar. 1975;15(2):85-91.

17 Morgan SG. Adaptive significance of hatching rhythms and dispersal patterns of estuarine crab larvae: avoidance of physiological stress by larval export? Journal of Experimental Marine Biology and Ecology. 1987;113(1):71-78. doi:10.1016/0022-0981(87)90083-9

18 Diele K. Life history and population structure of the exploited mangrove crab Ucides cordatus cordatus (Decapoda: Brachyura) in the Caete Estuary, North Brazil [Tese]. Universität Bremen, 2000. 116 f.

19 Rodrigues MD, Hebling NJ. Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda): complete larval development under laboratory conditions and its systematic position. Rev Bras Zool. 1989;6(1):147-166. doi:10.1590/S0101-81751989000100016.

20 Abrunhosa FA, Silva-Neto AA, Melo MA, Carvalho LO. Importance of the food and feeding in the first larval stage of Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ocypodidae). Revista Ciências Agronômicas. 2022;33(2):5–12.

21 Diele K, Simith DJB. Salinity tolerance of northern Brazilian mangrove crab larvae, Ucides cordatus (Ocypodidae): Necessity for larval export? Estuarine, Coastal and Shelf Science. 2006;68(3-4):600-608. doi:10.1016/j.ecss.2006.03.012

22 Silva UATD, Cottens K, Ventura R, Boeger WA, Ostrensky A. Different pathways in the larval development of the crab Ucides cordatus (Decapoda, Ocypodidae) and their relation with high mortality rates by the end of massive larvicultures. Pesq Vet Bras. 2012;32(4):284-288. doi:10.1590/S0100-736X2012000400002

23 Cottens KF, Silva UAT, Ventura R, Ramos FM, Ostrensky A. Cultivo de larvas de Ucides cordatus (LINNAEU, 1763) sob diferentes intensidades luminosas. Arq Bras Med Vet Zootec. 2014;66(5):1464-1470. doi:10.1590/1678-6675

24 Souza RMD, Neto RR, Loureiro Fernandes LF. Importância do rotífero como alimento no desenvolvimento larval do caranguejo-uçá. Bol Inst Pesca. 2017;43(2):185-193. doi:10.20950/1678-2305.2017v43n2p185

25 Weinstein MP. Shallow marsh habitats as primary nurseries for fishes and shellfish, Cape Fear River, North Carolina. Fishery Bulletin. 1979;77(2):339-357.

26 Almeida EVD, Santos JOD, Silva GAD, Miranda RGBD. Distribuição espaço-temporal de crustáceos decápodes meroplanctônicos, com ênfase nas larvas do caranguejo-uçá, na baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Revista CEPSUL. 2017; 6:e2017001. doi:10.37002/revistacepsul.vol6.651e2017001.

27 Bowser PR, Rosemark R. Mortalities of cultured lobsters, Homarus, associated with a molt death syndrome. Aquaculture. 1981;23(1-4):11-18. doi:10.1016/0044-8486(81)90003-X

28 Freire, AS. Dispersão larval do Caranguejo do mangue Ucides cordatus (L.1763) em manguezais da Baía de Paranaguá, Paraná [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1998.

29 López MS, Coutinho R. Acoplamento plâncton-bentos: o papel do suprimento larval na estrutura das comunidades bentônicas de costões rochosos. Oecologia Brasiliensis. 2008;12(4): 575-601. doi: 10.4257/oeco.2008.1204.01

30 Fonseca LCDMD, Cioffi G, Fagundes KRC, Pratezi MR, Camargo PR, Cunha-Lignon M. Manguezais do paraná: zona úmida costeira e seus atributos. In: Ecologia e Conservação Da Biodiversidade 2. Ponta Grossa: Atena Editora; 2022:38-53. doi:10.22533/at.ed.5072227073

31 Noernberg MA, Lautert LFC, Araújo AD, Marone E, Angelotti R. Remote Sensing and GIS Integration for Modelling the Paranaguá Estuarine Complex - Brazil. Journal of Coastal Research. 2006;SI(39):1627-1631.

32. Krug LA, Leão C, Amaral S. Dinâmica espaço-temporal de manguezais no Complexo Estuarino de Paranaguá e relação entre decréscimo de áreas de manguezal e dados sócio-econômicos da região urbana do município de Paranaguá – Paraná. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto; 21-26 abr 2007; Frorianópolis: INPE; 2007. p. 2753-2760.

33 Alegretti CB, Grande H, Namiki CAP, Loose RH, Brandini FP. A preliminary assessment of larval fish assemblages on artificial reefs in the nearshore Southern Brazil. Ocean Coast Res. 2021;69:e 21017. doi:10.1590/2675-2824069.21-002cba

35. Grande H, Rezende SDM, Simon TE, Félix‐Hackradt FC, García‐Charton JA, Maida M, Gaspar ALB, Francini‐Filho RB, Fredou T, Ferreira BP. Diversity of settlement‐stage reef fishes captured by light‐trap in a tropical south‐west Atlantic Ocean coastal reef system. Journal of Fish Biology. 2019;94(2):210-222. doi:10.1111/jfb.13858.

36 Beldade R, Borges R, Gonçalves EJ. Depth distribution of nearshore temperate fish larval assemblages near rocky substrates. Journal of Plankton Research. 2006;28(11):1003-1013. doi:10.1093/plankt/fbl035

37 Borges R, Beldade R, Gonçalves EJ. Vertical structure of very nearshore larval fish assemblages in a temperate rocky coast. Mar Biol. 2007;151(4):1349-1363. doi:10.1007/s00227-006-0574-z

38 Almeida, EVD. Manual para Estudo das Larvas do Caranguejo Uçá [Internet]. Petrobrás Ambiental. São Gonçalo: ONG Guardiões do Mar- RJ; 2014 [citado em 2024 jul. 25]. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Eduardo_Vianna_De_Almeida/publication/281783984_Manual_para_Estudo_das_Larvas_do_Caranguejo_Uca/links/55f862ab08aeafc8ac0e455b/Manual-para-Estudo-das-Larvas-do-Caranguejo-Uca.pdf

39 Anger K. The Biology of Decapod Crustacean Larvae. 14 ed. Lisse: AA Balkema Publishers; 2001.

40 Castilho-Westphal GG, Ostrensky A, Pie MR, Boeger WA. Estado da arte das pesquisas com o caranguejo-uçá, Ucides cordatus. Archives of Veterinary Science. 2008;13(2):151-166. doi:10.5380/avs.v13i2.12896

41 Cottens KF. Efeitos da temperatura, da intesnidade luminosa e da densidade de cultivo na larvicultura de Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) (CRUSTACEA, DECAPODA, BRACHYURA) em condições de laboratório [Dissertação]. Curitiba: Pós Graduação em Ciências Veterinárias - Universidade Federal do Paraná; 2009. 80 f.

42 Dalabona G, Silva JDLE, Pinheiro MAA. Size at morphological maturity of Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Brachyura, Ocypodidae) in the Laranjeiras Bay, Southern Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology. 2005;48(1):139-145. doi:10.1590/S1516-89132005000100018

43 Queiroga H, Blanton J. Interactions between behavior and physical forcing in the control of horizontal transport of decapod crustacean larvae. Advances in Marine Biology. 2005;47:107-214. doi: https://doi.org/10.1016/S0065-2881(04)47002-3

44 Francini-Filho, R. B., and R. L. Moura. 2008. Evidence for spillover of reef fishes from a no-take marine reserve: An evaluation using the before-after control-impact (BACI) approach. Fisheries Research 93(3):346–356

Downloads

Publicado

2024-09-03

Edição

Seção

Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade - Programa Monitora